Quero abrir o relacionamento, e agora?
Confira dicas de como propor uma relação não-monogâmica para seu parceiro ou parceira
Por Beatriz Magalhães
Não-monogamia, poligamia, relacionamento aberto… os termos podem trazer algumas dúvidas e até receios pra quem costuma se deparar com conteúdos sobre o assunto e já teve curiosidade de experimentar novas formas de se relacionar. Como, por exemplo, querer abrir a relação, mas não saber como falar sobre isso com o parceiro ou parceira, medo do abandono, de sentir ciúmes, entre outras inseguranças.
Existem cada vez mais formas de viver e experienciar os relacionamentos amorosos, afinal não há certo ou errado, apenas aquilo que funciona melhor para cada um. E caso você esteja dentro de uma relação e esteja pensando em abrir, conversamos com a pesquisadora e empresária Mayumi Sato, que comanda o Sexlog, maior rede social de sexo do Brasil, para reunir algumas dicas sobre o assunto.
Antes de tudo, o que é a não-monogamia dentro de um relacionamento?
Segundo Mayumi, a não-monogamia é um termo guarda-chuva que se baseia na não exclusividade dentro das relações, seja de forma afetiva ou sexual, que é o contrário do formato que estamos acostumados hoje, a monogamia. Ou seja, desse modo, as pessoas podem se conectar romântica e sexualmente ao mesmo tempo com outras pessoas.
"Esse guarda-chuva contempla diversas formas de cultivar afetos e que estão desconectados da ideia de monogamia: desde casal liberal, não-monogamia política, poliamor, trisais, entre outros".
Lembrando que existem várias possibilidades de acordos dentro das relações, não há uma regra a ser seguida.
O que preciso saber antes de propor essa mudança?
Antes de pensar em como conversar com a outra pessoa, é importante se questionar e entender o propósito de tudo isso. Como, por exemplo: de onde vem sua motivação? Quais desejos quer explorar? Quais são os prós e contras e como isso resolveria a situação atual?
De acordo com Mayumi, fazer esse questionamento interno é um passo essencial pra entender suas reais necessidades e não cair em armadilhas para preencher algum tipo de vazio emocional no seu relacionamento atual (ou mesmo dentro de você).
"Se você é uma pessoa muito apegada com amigos, trabalhos, coisas que já fez ou tem, será que consegue praticar o desapego na sua relação afetiva?", comenta ela.
Para Mayumi, é preciso considerar o ponto de vista do outro: "Geralmente, algumas pessoas se empolgam, consideram que vão começar a sair, conhecer gente nova, se interessar mais pelo mundo, mas e quando a outra pessoa fizer o mesmo, como você vai sentir em relação a isso?". Ou seja, é uma mudança de mentalidade e na forma de se relacionar, mas não podemos esquecer que tudo que é idealizado será colocado em prática de ambos os lados.
Como propor essa mudança para meu parceiro ou parceira?
A chave para qualquer tipo de relação é ter um espaço seguro e aberto ao diálogo com base na confiança mútua. Uma dica é começar aos poucos e tentar compartilhar conteúdos, citar exemplos de pessoas conhecidas, falar de uma reportagem aqui ou ali. Construir o caminho coletivamente fica mais fácil para puxar o assunto.
Para Mayumi, outro ponto importante é não esperar o assunto virar algo urgente. "Não espere a gota d’água ou até que você esteja exausta(o) com a relação. Quando deixamos chegar nesse estágio é mais difícil manter a calma e acolher a reação que a outra pessoa pode ter".
Outro ponto é ter clareza de que ambos entendem o relacionamento aberto da mesma forma, ou seja, falar sobre todos os acordos e possibilidades que vem com a mudança.
A ideia é abrir apenas pra sexo ou vocês podem se relacionar romanticamente? Pessoas conhecidas, ex-namorados ou amigos estão vetados ou não? Esse tipo de acordo vale para todos os dias da semana ou só em momentos de viagens?
Lidar com o ciúmes e possíveis situações que podem causar desconfortos é um fator que também entra muito nesse papo.
"Uma outra reflexão é sobre a questão do ciúmes, porque somos muito educados a pensar no mundo e nos afetos a partir da escassez. Temos a impressão de que se alguém ama o outro, não é capaz de nos amar. Ou se nos ama, não faz sentido amar outra pessoa também", diz Mayumi.
"A grande questão sobre o ciúmes é trazer um pouco de razão para o sentimento, entender que ele tem esse lugar dentro de nós. Às vezes, é realmente impossível evitá-lo, mas ainda que sinta ciúmes, o que faço com ele na prática? Vou transformar em uma arma para controle do desejo alheio? Ou enxergar como um sentimento válido, porém que, na maior parte das vezes, é minha responsabilidade lidar com ele? Sentir ciúmes não é uma escolha, mas o que vou fazer com esse sentimento sempre é".
Portanto, definir algumas regrinhas pode ser extremamente útil nesse momento, pra trazer maior confiança na relação e entender os limites de cada um. O importante é construir essa relação com base na transparência, lembrando que, sempre existe a possibilidade de voltar atrás e mudar de ideia.
"Ser humano não é linear, a vida é cheia de curvas e isso tem que ser contemplado nas relações também", finaliza Mayumi. Que tal se permitir explorar e mergulhar nesse mundo de possibilidades?