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Pornografia: você não precisa parar de ver, mas amplie o seu olhar

Saiba como identificar produtoras que respeitam e valorizam o trabalho de quem está na frente das câmeras

por Amanda Grecco

A indústria do pornô traz muitas problemáticas à tona: a objetificação e minimização do prazer da mulher nas narrativas, os abusos e violências nos bastidores, a desigualdade nos salários de acordo com o gênero dos atores, entre outras questões que têm sido discutidas nos últimos anos. Se você é o tipo de pessoa que gosta de assistir, mas tem receio, este texto é para você. Com tantas críticas às grandes produções eróticas, fomos atrás de possibilidades que te protegem de dar visualizações para produções que exploram pessoas.

Ao contrário da pornografia mainstream, produções autorais geralmente são criadas por pessoas que estão interessadas em explorar temas específicos e que têm uma visão crítica em relação à indústria pornográfica. Essas produções podem abordar questões como diversidade de corpos e sexualidades, consentimento, prazer feminino, entre outras, e podem ser uma forma de educação sexual e de quebra de tabus, o contrário da pornografia padrão.

Zuzu, cofundador da produtora Ediy Porn, diz que a ideia dele e dos envolvidos na empresa é a de fortalecer a cultura de “pague pelo seu pornô”. “As pessoas acham que assistem um pornô e podem descartá-lo, essa relação de uso rápido que temos com os vídeos diz muito sobre como nos relacionamos”, explica.

Carinho, trocas de olhares e pessoas realmente envolvidas no sexo são os principais ingredientes do trabalho do artista e performance erótico Aquele Mário, e ele afirma com surpresa que tem percebido uma grande busca por suas produções. “É importante questionar os grupos de masculinidade saudável que pregam que a pornografia é o mal de todo o mundo; que ela seria culpada por todo o machismo. Existem violências e vícios antes da pornografia, o que precisamos entender é que ela é fruto do sistema que estamos inseridos, e podemos fazer produções que incentivem uma mudança de rumos”, explica Mário.

Zuzu conta que ao perceber que teve sua educação sexual pautada em vídeos de pornografia, resolveu fazer uma retomada dessa linguagem como um amadurecimento de sua visão, identificando-se como alguém que trabalha pelo movimento pós-pornografia. “Uma das características da Ediy é que todos os integrantes passam pela experiência de atuar no pornô, não tem uma equipe técnica e uma de criação. Logo que começamos, percebemos que estávamos abrindo uma produtora de pornô fofo. Mesmo com práticas mais intensas, como BDSM, mostramos os acordos entre os performers para que uma cena de comum acordo não seja interpretada como violência ou dominação”, diz. 

Zuzu e Mário também explicam que a pornografia sempre foi utilizada como um campo de vanguarda e com a grande ascensão da pornografia amadora, passou a ser mais possível que essas produções apresentem práticas mais livres e espontâneas. “A gente tem visto uma grande explosão de conteúdo de diversidade. O modelo de estúdio de pornografia está em queda e a pornografia amadora está em alta”, explica Zuzu. 


Entendendo a pós-pornografia

A "pós-pornografia" é um movimento artístico e político que surgiu na década de 1990 como uma forma de questionar as normas e estereótipos associados à pornografia tradicional. Teve suas origens na Europa, especialmente na Espanha e na França, quando artistas começaram a questionar as representações convencionais de sexualidade e a objetificação das mulheres na pornografia.

Entre as artistas que foram importantes para o desenvolvimento da pós-pornografia, destaca-se Annie Sprinkle, uma performer e ativista norte-americana que trabalhou no mercado antes de se tornar uma das principais vozes da crítica à indústria pornográfica, além do Post Op, um coletivo francês que organizou o primeiro festival de pós-pornografia em Paris, em 2000. 


Curadoria de conteúdo

O mais importante é ir atrás de produções que você possa conhecer um pouco sobre os atores e suas condições de trabalho. Então, caso queira ver pornô em plataformas tradicionais como Porn Hub, X Vídeos e até no Twitter, o mais importante é saber pesquisar para não cair em produções violentas que podem remunerar mal, descuidar da saúde física e psíquica dos atores e ainda os submeter a cenas que não gostariam de fazer. “É ideal fazer um garimpo de produtor de conteúdo e começar a falar mais sobre pornô, né?”, questiona Zuzu.


Quer procurar por pornôs alternativos? Confira aqui algumas dicas dos entrevistados

1. O grupo Aorta é de Nova York e tem uma pegada performática, que mistura pornografia, dança e diversidade. É lindo ver corpos que rompem muito o padrão.

    http://www.aortafilms.com/about

     

    2. Dentre os sites mais famosos de pornô alternativo, Erika Lust se destaca por defender um conceito de pornô feminista e que gera grandes discussões entre grupos de mulheres. 

    https://erikalust.com

     

    3. O coletivo encabeçado pela Vex Ashley tem foco na pornografia experimental e videoarte, com um olhar fotográfico refinado. No site dá para ver teares de até 5min.

    https://afourchamberedheart.com/cinema

     

    4. Quente Clube é o site de uma só produtora, mas que agrega vários canais diferentes, cada um com uma estética. Vai de conteúdos dos mais alternativos aos tradicionais. 

    https://quente.club

     

    5. Ediy Porn é a produtora gerenciada pelo Zuzu. Conheça mais aqui:

    https://www.ediyporn.com/

     

    6. Para conhecer o trabalho do entrevistado Mario, produtor de conteúdo e artista, confira seu perfil no Instagram: 

    https://instagram.com/aquelenaquilo

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