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Disfunção erétil: entenda como acontece e o que fazer

Na busca por um ideal de performance masculina pautada em pornografia e outras referências irreais, a ansiedade por “ficar duro” interfere no prazer

 

Por Amanda Grecco 


Beijos, amassos e preliminares rolam até que o clima é interrompido porque alguém broxou. O tema deste texto é sobre o maior pesadelo dos corpos com pênis, a disfunção erétil, questão comum, mas que quase ninguém sabe como lidar. Geralmente utilizamos o termo “impotência sexual” para designar uma falha na ereção, mas a psicóloga clínica e sexóloga Michelle Sampaio explica que, dentro dos estudos da sexualidade humana, o adequado é dizer “Disfunção Erétil (DE)”, não impotência. “Não é porque não há ereção que a pessoa está impotente frente a uma relação sexual. Ela está sem ereção, não necessariamente impotente”, explica.

 

Pode acontecer com qualquer pessoa. Em uma pesquisa realizada pelo Datafolha em 2020 em parceria com a startup Omens, foi descoberto que 38% dos participantes (1.813 brasileiros de 18 a 70 anos) tiveram algum tipo de disfunção erétil nos últimos 2 anos. João Brunhara, médico urologista, diz que apesar dessa ocorrência ser comum, ela não é tratada com naturalidade por muitos homens porque a dificuldade com a ereção pode ser vista como uma falha da masculinidade. “Esse tipo de situação é encarada como uma quebra no estereótipo da virilidade. Então, esses homens têm vergonha porque sentem que a falha faz com que a masculinidade seja abalada. É uma confusão de conceitos”.

 

Pode acontecer com todo mundo

A psicóloga clínica e sexóloga Michelle explica que a DE está muito ligada a sentimentos de ansiedade e preocupação, que dificultam a conexão durante a relação. “A preocupação em performar gera ansiedade, que libera adrenalina e atrapalha a ereção." Homens de qualquer idade estão expostos a situações assim, mas essa é a principal causa para as falhas de ereção em homens abaixo de 40 anos, explica João. O urologista conta que conforme os homens envelhecem, é normal que haja uma diminuição na função erétil. Além disso, condições médicas como diabetes, doença cardiovascular, pressão arterial elevada e depressão podem contribuir para a DE. O uso de certos medicamentos, tabagismo e consumo excessivo de álcool também podem ser fatores que aumentam o risco.


Como lidar 

É importante ampliar o conceito sobre sexo e sexualidade. “Se você acha que precisa de um pênis ereto para ter uma relação sexual prazerosa, isso pode gerar um pânico por ter que alcançar a ereção, mas o sexo vai muito além de penetração e exitem vários outros estímulos que podem ser prazerosos”, diz Michelle. A sexóloga explica que a melhor forma de lidar com a parceria que está passando por uma DE é conversando sobre o que está acontecendo, sem deixar que esse assunto vire um tabu. “Em geral, os casais não falam sobre sexualidade, e falam menos ainda quando têm problemas. Então, o ideal é conversar sobre o que está acontecendo, mas de forma afetiva e carinhosa. Jamais com agressividade”.

 

Michelle sugere que a troca de prazer seja desgenitalizada, ou seja, que o foco não seja nos genitais. Por isso, ela sugere que pode ser interessante tirar a atenção da pessoa que está com a falha na ereção e mostrar para ela que você pode ter prazer de outras formas, envolvendo-a na situação. “O fato de vocês estarem relaxados e sentindo outros estímulos pode até fazer a ereção dar as caras em algum momento”, explica. 

 

Os homens ficam muito constrangidos com a falha e a vergonha pode deixá-los ainda mais retraídos. Por isso, a dica da sexóloga é tentar estabelecer uma conversa empática e descontraída, mostrando que você não está sentindo decepção ou frustração pelo que aconteceu. 

 

Hábitos que ajudam a evitar a DE

 

A melhor forma de cuidar da saúde sexual é por meio de hábitos saudáveis, além de lembrar que o urologista é o médico do corpo com pênis e é importante ir ao médico com regularidade, fazer check-ups com frequência para eliminar as questões orgânicas e preveni-las, diz a psicóloga clínica e sexóloga Michelle. 

 

“Além de eliminar questões orgânicas, é fundamental cuidar dos fatores psicológicos. Ansiedade, estresse com trabalho ou mesmo com questões financeiras podem causar uma falha na ereção e outros problemas. Por isso, é interessante ter um profissional de confiança para auxiliar com as questões emocionais e evitar as somatizações”, explica a sexóloga.

 

Disfunção erétil tem tratamento

 

Nem sempre é necessário buscar ajuda médica, diz o urologista João. “Vale a pena ressaltar que uma ou poucas falhas pontuais são comuns e qualquer pessoa está sujeita a ter, jovem ou idoso. A gente encoraja os pacientes a não atribuir importância excessiva para não causar uma ansiedade maior e acabar gerando outras falhas futuras”, explica.

 

Michelle diz que se a DE se tornar frequente, há tratamentos diversos que são receitados de acordo com a condição de cada paciente. “O tratamento pode ir desde a ida ao urologista para identificar as causas orgânicas, fazer terapia sexual a usar medicação oral como viagra, cialis, e outras facilitadoras. Em casos mais graves – pacientes que tiveram quadros como câncer de próstata ou diabetes –, existe a terapia injetável e, em última instância, a prótese peniana”.

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