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BDSM: um fetiche sobre prazer e confiança

Conheça mais sobre a fantasia conhecida pelas algemas, couro, chicote e outros apetrechos que podem causar espanto à primeira vista


por Amanda Grecco


“Vem de chicote, vem de algema, corda de alpinista. Daí que eu percebi que o cara é sadomasoquista” – diz um antigo hit do TikTok da funkeira Deize Tigrona. Outras referências como 50 Tons de Cinza e Ninfomaníaca frequentemente viralizam por trazer à tona o fetiche mais procurado da internet, o BDSM. Se você é do time que sente tudo esquentar só de pensar em um sexo mais forte, esqueça tudo o que você já viu nesses entretenimentos – e nos sites pornôs – e venha entender mais desse mundo de prazer.

 

Afinal, o que é BDSM? 

O BDSM é uma sigla para “Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo”. Ela acompanha outra sigla, a SSC, que significa São, Seguro e Consensual. Atenção à palavra “são”, pois álcool e drogas não são bem-vindos, já que alteram o limiar da dor – o BDSM é um fetiche sobre prazer, jamais sobre dor. Portanto, não tente imitar o que você viu em filmes sem conhecer seu corpo e o da sua parceria.

O fetiche também não é uma doença ou transtorno emocional se estiver dentro do combinado do SSC. Inclusive, a Associação Americana de Psiquiatria removeu o BDSM do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais nos anos 1980.


  • Bondage: toda ação que envolve restrição física. Vai desde segurar os braços da parceria ou vendar os olhos a amarrar e algemar;
  • Disciplina: significa que as regras estabelecidas entre os participantes devem ser cumpridas;
  • Dominação: é o papel do Top, a pessoa que está comandando a ação; 
  • Submissão: é o papel do Bottom, a pessoa que recebe as demandas e punições;
  • Sadismo: sentimento de prazer em ver outra pessoa sendo punida física ou emocionalmente;
  • Masoquismo: sentimento de prazer ao sofrer punições físicas ou emocionais.

 

Entenda o fetiche

Por mais estranhamento que você possa sentir, te convidamos a lembrar daquele sexo gostoso que deixou algumas marquinhas de mordidas e arranhões e você nem sentiu na hora porque estava com muito tesão. Era tudo consentido e você curtiu a “pegada forte” de quem tocou seu corpo dessa maneira.

BDSM é quase assim. A diferença é que as pessoas envolvidas seriamente na prática participam de uma sessão, também conhecida como cena, em que os papéis de cada um dos envolvidos já está determinado e os tipos de estímulos e limites também são pré-definidos, explica D’Avilla, idealizador da Festa Dando, a maior festa LGBTQIA+ fetichista do Brasil, e sócio do Casarão Lovenox.art, um espaço de entretenimento e educação sexual.

“BDSM é sobre acordo e diálogo. Ele acontece em uma cena ou sessão. Os acordos são determinados e é o Bottom (submisso) quem faz as regras. Ele vai dizer ao Top (dominador) o que gosta, e o Top vai compor a cena da forma como quiser”, explica D’Avilla. Ou seja: se você quer experimentar tapas na bunda e apertões nos mamilos, mas não está a fim de brincar com velas ou agulhas, é só combinar que nada vai sair do plano.

D’Avilla também explica que além dos combinados, existem as safewords: palavras de segurança acordadas previamente para que a pessoa que está comandando a situação saiba quando parar. “Se o Bottom atingir o limite dele, parou tudo. Por isso, os acordos precisam ser bem-feitos”, explica.

 

Com quem praticar

Para que uma cena de BDSM aconteça daquela forma como imaginou, é imprescindível que exista um vínculo de confiança entre os praticantes. Lulu Lovelight, terapeuta sexual e fundadore da Orgasticah, evento de entretenimento e educação afetivo-sexual para pessoas queer não-monogâmicas, conta que sua primeira experiência no BDSM foi quando uma pessoa de sua extrema confiança lhe encoleirou. 

“Eu, que sempre me vejo com tarefas de dominação na vida, sendo a pessoa que organiza tudo, senti muito tesão quando fui encoleirade por uma pessoa que confio. Nunca me imaginei nesse papel de submissão e foi muito interessante poder viver e gostar disso”. Lulu Lovelight explica que o BDSM é uma forma de expandir a sensação de prazer para além da sexualidade praticada pelos casais baunilhas, aqueles que não exercem o fetiche. “Há quem chegue ao orgasmo sem estimulações diretas no órgão sexual”. 

 

Pontos de atenção

Assim que a cena terminar, existe uma prática chamada Aftercare, explica D’Avilla. “No Casarão Lovenox, temos um quarto só de Aftercare. Lá, o Top vai oferecer cuidados físicos e emocionais ao Bottom, como limpar e massagear o corpo, abraçar, olhar nos olhos e oferecer escuta à pessoa”. Ele explica que esse momento é fundamental para que o BDSM seja saudável.

D’Avilla e Lulu chamam a atenção para situações em que o Top acaba usando de seu poder para submeter o Bottom a situações de humilhação. “Construímos toda a nossa sexualidade com pornografias agressivas e machistas. É importante ter o acompanhamento de terapeuta, amigos e redes de apoio para poder refletir se o seu relacionamento garante liberdade e autonomia, independentemente de seu fetiche”, diz D’Avilla.

 

Se você tem interesse em conhecer o BDSM, conheça as iniciativas:

Orgasticah e Lovenox.art: projetos que misturam entretenimento e atividades para educação e experimentação sexual.

Ediyporn: site de pornografia voluntário. Todo o elenco é composto por pessoas com diferentes corpos, gêneros e orientações sexuais.

Dominatrix: bar e restaurante fetichista com ambiente propício para práticas BDSM.

Festa Luxúria: festa temática para que pessoas possam exercer suas fantasias fetichistas.

Discord: rede social com fóruns de discussão sobre fetiches diversos, incluindo BDSM.

FetLife: rede social para se conectar a outras pessoas com fetiches diversos, incluindo BDSM

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