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Bissexualidade: o que é e por que precisamos falar sobre

Entenda as questões que envolvem a orientação sexual e como podemos fazer parte da construção de uma sociedade mais inclusiva e livre para todos e todas 

Por Amanda Grecco 


Bissexualidade pode ser definida como atração por mais de um gênero, podendo ser dois, três, inclusive todos. “Bissexualidade é por quem você se atrai, não por quem você beija ou se relaciona porque é preciso encontrar alguém que queira te beijar também. Exercer a sexualidade envolve muitos outros fatores que podem atrapalhar a descoberta bissexual”, explica Nick Nagari, palestrante e pesquisador sobre bissexualidade e transgeneridade, em seu perfil do Instagram.

Com base em estudos de autores que se debruçam sobre o tema da sexualidade, como Elizabeth Lewis, Paul Preciado e Jo Eadi, Nick explica que a bissexualidade até hoje não é vista como uma própria sexualidade, mas como a mistura de duas outras coisas (heterossexualidade e homossexualidade). “É assim que a bifobia age: ela pressupõe a ideia de que a gente nem existe. É como se a fossemos metade uma coisa e metade outra. Pressupor que a bissexualidade é binária é um erro crasso de quem não estudou sobre ela. Bissexualidade é exatamente sobre estar fora de um sistema binário; ela sempre foi sobre como construir novas narrativas”, explica.


Nem um, nem outro

Segundo Elizabeth Lewis, autora da pesquisa “Não É Uma Fase: Construções Identitárias Em Narrativas De Ativistas LGBT Que Se Identificam Como Bissexuais”, a bissexualidade é constantemente desqualificada pelo vício social de rotular pessoas como monossexuais. De acordo com a pesquisadora, assumir que uma pessoa é capaz de transitar entre desejos que não pressupõe gostar de um gênero ou outro, mas de pessoas, pode oferecer ameaça por sua forma múltipla de amar, sendo constantemente constrangida por isso.

Em sua pesquisa, Elizabeth escreve: "Quando a bissexualidade é considerada uma combinação da heterossexualidade e da homossexualidade, as pessoas que se identificam como bissexuais se tornam potenciais “ameaças heterossexuais”. Por exemplo, uma pessoa que se identifica como bissexual que está em uma relação com uma pessoa do “mesmo” sexo geralmente será bem-vinda em um grupo LGBT (embora pressionada a se identificar como homossexual), mas a mesma pessoa em uma relação com uma pessoa do sexo “oposto” não o será." 


Bifobia e homofobia são coisas diferentes

“A partir do momento que você acaba falando sobre esse assunto e dando visibilidade para pessoas bissexuais, normaliza uma sexualidade que existe há muito tempo, propiciando que as próximas gerações possam ter uma normalização dessa sexualidade sem que isso seja catalogado apenas como uma fase passageira que não merece validação, explica a psicóloga, pesquisadora e integrante do coletivo Bi-Sides, Beatriz Hermans em vídeo publicado no canal do coletivo.

Para Beatriz, a crença popular de que as pessoas bissexuais têm um privilégio hétero em detrimento dos homossexuais é falha. “De fato, elas não sofrem homofobia, mas bifobia. Essa bifobia aparece independente do gênero das pessoas com quem estamos, ou se estamos em uma relação, ou não. Ser bissexual é uma questão inerente aos nossos parceiros, é uma questão nossa”.

A pesquisadora esclarece que a mulher bissexual é vista como um objeto sexual para fomentar relações ou como uma pessoa que obrigatoriamente tem que realizar os fetiches do seu parceiro. Isso está relacionado ao fato de não ser vista como uma mulher confiável e que não é capaz de estar em um relacionamento monogâmico. 


Ser bissexual não é confusão

Adriane Machado, psicóloga social, psicanalista e simpatizante do movimento LGBTQIA+, explica que pensar sobre as sexualidades requer refletir sobre os posicionamentos políticos. “O reconhecimento de alguém que se nomeia como bissexual é minimamente respeitoso, visto ser legítima a declaração sobre si enquanto sujeito que se posiciona além das determinações binárias, mas múltiplas sobre seu desejo de relação, vínculo, tesão, querer relacional”.

A psicóloga explica que o crescente da sigla aponta para infinitas formas do existir, e todas devem ser respeitadas, entendidas e acolhidas em sua singularidade. “Como explica Judith Butler, o ideal é que não precisemos de rótulos para nos manifestarmos e sermos respeitadas, mas no atual cenário, eles podem nos ajudar com lutas e conhecimentos políticos, já que seus significados ainda estão em desenvolvimento e disputa”, esclarece.

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