HIV: como é a prevenção e o tratamento no Brasil
Após 40 anos de avanços científicos, os tratamentos já permitem transformar a carga viral em indetectável e intransmissível
Por Amanda Grecco
No Dia Mundial de Combate à AIDS, 1 de dezembro, celebramos os diversos avanços desde o surgimento da pandemia de HIV dos anos 1980. Com as novas medicações, é possível que uma pessoa que convive com o HIV tenha a mesma qualidade e expectativa de vida de qualquer pessoa saudável.
O jornalista Vinícius de Vita conta que, para muitos homens gays, mais do que um vírus, o HIV funciona como um espectro que sempre ronda o imaginário. “Para a minha geração que nasceu nos anos 90, o HIV já existia como pano de fundo. Desenvolvemos a nossa sexualidade num contexto em que o vírus já existia e, por mais que não morram mais pessoas como no início da epidemia, a imagem construída é de alguém visivelmente doente. Qualquer vacilo que você dá, já fica carregado de culpa e preocupação”.
Vinícius sempre foi muito estudioso do tema e já acompanhava os tratamentos de prevenção que existiam em outros lugares do mundo. Atualmente usuário de PreP, ele conta que, mesmo com bastante cautela, vive com mais tranquilidade após as novas tecnologias de prevenção.
PeP e PreP: prevenção para além do preservativo
O uso da camisinha continua sendo aconselhado, é inquestionável. Mas existem dois tipos de medicação que ajudam - e muito - no combate à aquisição do vírus. A PeP (Profilaxia Pós-Exposição) e a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) são as drogas que, junto ao preservativo, dificultam a transmissão.
- Quando usar a PeP
O médico e infectologista Álvaro Costa explica que se o preservativo estourar ou não for utilizado, a medicação preventiva PeP pode ser administrada em até 72h. “A PeP está disponível no SUS e é uma prevenção eficaz em relação ao HIV. É encontrada em serviços que funcionam geralmente dentro de instituições universitárias”.
- Quando usar a PrEP
Álvaro esclarece que a PrEP é uma combinação de 2 antivirais e está disponível no SUS desde 2018. Ela é de uso contínuo e tem uma eficácia de prevenção superior a 95%. “É uma estratégia sólida de prevenção quando associada ao uso de preservativos. É possível que pessoas vulneráveis, que tenham atividade sexual de risco, complementem sua prevenção utilizando essa medicação”.
É importante tomar a PrEP todos os dias no mesmo horário. Não há interação com administrações hormonais, então pessoas trans também podem fazer uso independente do gênero de nascimento. A medicação não deve ser utilizada por pessoas que estão em tratamento de HIV e ela não previne a contaminação de outras ISTs.
Se é tão legal, por que pouca gente toma?
O medicamento é gratuito e distribuído no SUS. Para adquiri-lo, é importante ir a um centro de saúde especializado e passar com um profissional da saúde, mas as informações sobre onde encontrar esses centros não são tão fáceis, de acordo com Vinícius. “O acesso ao medicamento é um pouco burocrático porque nem todo posto é especializado e você precisa achar um lugar que tem vaga no estudo, já que a medicação ainda está em fase de teste no Brasil".
Para comprar na farmácia, é preciso arcar com o custo de aproximadamente R$ 400, mas com descontos ou planos de saúde, sai em torno de R$ 160. Não é necessário ter receita e é fácil de encontrar.
Vinícius conta que no SUS é preciso ter um acompanhamento médico. “Então, além de ser gratuito, a vantagem é que para ter acesso ao remédio, precisa passar pelo médico e fazer todos os exames. Então, se você eventualmente contraiu alguma IST, vai poder rastrear cedo e cessar a infecção com agilidade”.
O jornalista também explica que, mesmo que gratuita, a PrEP é usada majoritariamente por quem tem acesso à informação. “A classe média e média alta são o público que mais têm acesso e vai atrás. No meu ciclo social, muita gente usa. Mas, em números absolutos, o número de usuários da PrEP no Brasil é muito baixo”.
Sou reagente, e agora?
O médico e infectologista Álvaro explica que, assim que a pessoa faz o diagnóstico de HIV, deve procurar um profissional da área da saúde, preferencialmente um infectologista para começar o tratamento.
Victor foi diagnosticado em 2015. Ele conta que o primeiro momento foi um choque, mas hoje leva uma vida saudável: trabalha, é casado, tem dois filhos, faz exercícios e vive bem como qualquer pessoa saudável.
Ele conta que, desde o início do tratamento, passou por situações distintas. “Eu tinha plano de saúde e fui fazer uma bateria de exames. Primeiro, fiz o teste em uma rede privada e levei a um médico infectologista. Como tinha o resultado em mãos, a notícia chegou sem qualquer preparo psicológico. Eu estava na rua, andando, quando li o "reagente" na página. Na consulta com o infecto, ele foi um tanto grosseiro e me olhou como se eu fosse 'culpado' pelo diagnóstico. Foi bem tenso. Ele me encaminhou para a rede pública”.
Após o choque, Victor foi a um centro de aconselhamento no Anhangabaú, em São Paulo. “Lá, fiz o teste uma vez. A enfermeira pediu para refazer para ter certeza. Tudo isso antes de me confirmar o resultado. Quem me deu a notícia foi uma assistente social, que já me encaminhou para um CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento), onde comecei o tratamento. Senti um abismo entre o acolhimento privado e público”.
Álvaro diz que, no Brasil, temos tratamento no SUS desde 1992/93, sendo destaque nos últimos 20 anos pelo pioneirismo em relação às medicações, e que temos um programa sólido de HIV com as medicações disponíveis no sistema público.
Para quem teve o resultado positivo agora, Victor dá um recado: Fique calmo. O choque com a notícia vai passar. O HIV não é um monstro. Sua vida não vai mudar drasticamente. Adicionar um comprimido por dia não vai mudar a sua rotina. Se você não se sentir bem, recorra a pessoas de confiança para te darem suporte. Faça o acompanhamento médico e vai dar tudo certo!”